Ana Maria Beraldo – A desbravadora do mundo
Ana Maria Beraldo é uma das maiores referências em cultura, gestão cultural da região, na verdade, de várias regiões. Ela é jornalista, autora de muitos livros, idealizadora de diversos festivais e projetos pelo Brasil afora. Além disso, Ana também é uma grande entusiasta de ideias, arte, projetos e empreendedores. Ela acredita e trabalha para que as boas ideias se fortaleçam, para que as pessoas prosperem e isso sempre a torna uma fonte de quem deseja fazer algo relacionado à cultura na região do Sul de Minas.
Ela nasceu no bairro Água Quente, em Santana, às margens do Rio Sapucaí, divisa entre o município e São Sebastião da Bela Vista. “De um lado, a Serra do Coroado, onde fica a Cruz de Pedra, marca dos bandeirantes paulistas que passaram por lá, considerado o 2o caminho do Ouro de MG. O universo era aquilo, limitado, mas ao mesmo tempo ilimitado para as possibilidades de infância”, conta.
Para Ana Maria Beraldo, quando criança, tudo que estava além do rio era desconhecido. A sua infância foi na roça, permeada pelo engenho de rapadura, em uma casa muito movimentada e com um pai que era contador de histórias clássicas. “Meu pai tinha um amigo que era contador de histórias de assombração. Até fiz um livro sobre ele. Uma história que este senhor contava, que me marcou muito, foi um eclipse da lua que ele presenciou e julgava que era o dragão que estava comendo a lua. Juntou toda a vizinhança toda para bater lata para espantar o dragão”, lembra.
Ela é de uma família grande de dez irmãos, como o mais velho já faleceu, Ana Maria Beraldo é a mais velha de todos. Quando criança, ouvia as histórias de seu pai e as reproduzia aos seus irmãos mais novos. Na época não tinha televisão, por isso, a diversão das crianças era criar os personagens dos livros de histórias que liam. Esse foi o universo em que ela cresceu, que com certeza influenciou de maneira decisiva os caminhos de sua vida e suas escolhas profissionais.
Seu contato mais próximo com Pouso Alegre começou ainda na década de 1980, quando participou do FESPROVE – Festival de Prosa e Verso de Pouso Alegre, coordenado pelo casal Hémon Vieira e Isabel Cristina, que acontecia no Teatro Municipal. “Um evento nacional com 3 dias de poesia, aberto para autores do Brasil todo. Tinha muita festa. Lembro-me que em um ano os participantes ficaram alojados no Conservatório. Essa revolução cultural marcou muito a história de PA. Eu participei por dois anos como autora, em um ano fiquei entre as dez melhores. Para mim foi um marco. A partir disso, a relação com cidade passou a ficar mais afetiva”, conta Ana Maria Beraldo.
Desde pequena, Ana queria desbravar o mundo, conhecer o que havia além do rio. Isso começou quando mudou para Pouso Alegre quando decidiu fazer faculdade de jornalismo na Univás, que estava inaugurando o curso. Ana Beraldo foi da primeira e segunda turmas e seu trabalho de TCC, junto com outros colegas, foi o emblemático livro “Sapucaí, o caminho das águas”. “Foi um desbravar o Sul de Minas, pois não tínhamos nada além do mapa. Não tínhamos referência bibliográfica, nada e, apesar disso, fizemos o primeiro livro-reportagem daqui, que foi um best-seller na época, pois, entre livros vendidos e doados para escolas e instituições culturais, foram 2 mil exemplares. Fizemos 18 lançamentos de abril a novembro. Foi um sucesso. O livro foi feito em 1992 e lançado em 1996, porque não tínhamos patrocínio. Mas foi uma editora em São Paulo que viabilizou a impressão. Teve lançamento de tapete vermelho, teve lançamento no meio da rua, teve lançamento na Ilha da Fantasia em Paraguaçu. Até em Campos de Jordão teve lançamento”, fala.
Quando terminou a faculdade, muitos colegas e amigos saíram de Pouso Alegre, mas Ana Maria Beraldo sabia que havia muito a ser desbravado na terra do Mandu ainda, por isso, decidiu ficar. “Em 2000 surgiu uma revista chamada Realidade do Sul de Minas e começamos a fazer as matérias especiais. Primeiro precisei desbravar o Rio Sapucaí, depois Santana, Pouso Alegre e agora era Sul de Minas. Isso me sustentava, me carecia. Eu não tinha necessidade de mais nada naquela época”.
Na mesma época, Ana Maria Beraldo participava de vários grupos ligados à cultura e ao meio ambiente. Escrevia para outras revistas, tinha coluna no Jornal Sul das Geraes, chamada “Em busca de Pouso Alegre”, em que contava a história de migrantes durante a fase maior de industrialização da cidade. Com esta experiência na imprensa, Ana percebeu o quanto que gostava de história oral, afinal, é filha de contador de história. Para se aprimorar nesta área, decidiu estudar a disciplina na ECA (Escola de Comunicação de Arte da USP), com o Edvaldo Pereira Lima, que é uma grande referência na área. Depois de seis meses, terminou o curso e foi continuar estudando na Faculdade de Educação na Unicamp, onde ficou mais seis meses também. “Disso tudo veio o projeto ‘Memória do Povo’, uma trilogia nesta linha”.
Desta trajetória toda é que Ana decidiu que era o momento de sair de Pouso Alegre e desbravar novos horizontes. No momento em que muitas pessoas estavam voltando para o Sul de Minas, ela estava indo para São Paulo para trabalhar em uma editora. “Eu estava recomeçando em São Paulo e, paralelo a isso, eu já tinha começado um trabalho em Sumaré, perto de Campinas, que eram dois livros voltados para a área de desenvolvimento social, chamado “Recaminhos” e o outro sobre a Captação de recursos para projetos sociais. Fiz um documentário também pela Lei Rouanet, patrocinado pela Honda, que foi um grande desafio também. A experiência disso tudo foi ótima”, conta.
Ana Maria Beraldo voltou para Pouso Alegre seis anos depois, por causa do falecimento de seu pai, mas não tinha planos de ficar. Foi ficando… e neste ficar, ao lado de Rogéria Aires criaram o Festival Sabores e Saberes e o livro “Memórias culinárias”. “Em São Paulo, eu trabalhava com muitos livros de receitas, fizemos o livro da Dona Benta, União e mais um monte. Trabalhei no projeto do Macarrão Renata, do Açúcar União. Quando voltei, queria fazer algo nesta área gastronômica”. Junto com isso, Ana voltou a trabalhar na FAI, em Santa Rita do Sapucaí, onde já tinha atuado por dez anos.
Ela sempre atuou nas duas áreas, jornalismo e educação. Nesta volta ao Sul de Minas, começou a perceber uma carência de um canal exclusivo sobre vestibular na região. Assim, ao lado da jornalista Isabel Moraes, com quem já havia trabalhado em São Paulo, resolveu montar o Portal do Vestibular. “Fomos muito bem acolhidas pela Superintendência de Ensino de Pouso Alegre. A proposta é “Venha estudar no Sul de Minas”, é um chamamento dos estudantes de outras regiões para cá”, explica. A equipe está em contato com as todas as faculdades da região, mantendo o diálogo com várias para ir estreitando os laços e fortalecendo o portal.
No Portal do Vestibular tem dicas de português, apresentação das cidades universitárias e bastante informação sobre a vida acadêmica. “O portal de entrada da maioria das faculdades é o ENEM e o grande drama é a redação. Então, criamos uma editoria ‘Corrigimos sua redação de Graça’. É anônimo, corrigimos e isso serve de exemplo para outros alunos”, finaliza Ana.