Um dia na cidade das cachoeiras
14 de julho. Chalés Bela Vista, Bueno Brandão, MG. O dia amanheceu ensolarado na cidade das cachoeiras. São 33 cadastradas, quatro delas estruturadas para receber turistas. Embora não esteja tão frio, não dá para aventurar-se em um banho de cachoeira. Só apreciação. E para apreciar, a diretora do Departamento Municipal de Turismo, Alessandra Santos, indicou-nos a Cachoeira Machado I pelo fácil acesso. Minha ida a Bueno foi articulada por Alessandra, toda gentil e atenciosa. Foi ela que fez o roteiro, que vamos executar neste dia.
Bom, antes de colocar o pé na estrada, vamos tomar café. Valdir e Maria Amélia, proprietários da pousada, nos aguardam com a mesa farta: café de bule, queijo branco, geleias e bolos de vários sabores, feitos por ela, sem contar as outras delicinhas. Surpresa inusitada: aparecem duas siriemas que vêm desfrutar do desjejum. Alimentam-se e desaparecem saltitantes entre as folhagens do jardim. Este ritual matinal é diário, conta o casal.
Uma pausa para conhecer o artesanato de palha feito pelo casal e Gustavo, um dos filhos. Que primor! Quanta criatividade! As peças, em movimento, seguem a linha barroca com cores fortes e alguns toques mineiros. Atualmente, a família também está produzindo peças na linha esotérica. Os produtos são vendidos no Estado de São Paulo e em algumas cidades de Minas.
O roteiro escolhido é no sentido Socorro, SP, que fica a 32 km de Bueno Brandão. Nem bem entramos na rodovia, uma placa indica a primeira parada: Mirante da Serrinha, 3km e meio serra acima. A subida é tranquila. A paisagem vai criando novas formas a cada curva. E sem muito esforço, eis o Mirante. De lá se avista uma imensidão de montanhas azuladas que povoam a Mantiqueira. Ao fundo, a cidade iluminada pelo sol da manhã. Momentos contemplativos e de oração.
De volta à Rodovia e a 8 km e meio adiante, a placa indica o Centro de Terapia Complementar Irmã Elisa, o segundo destino. Um pulinho: está apenas a 500 metros da Rodovia. A jovem Elaine nos recepciona e detalha o funcionamento do espaço que contempla tratamentos com vários tipos de terapias e ervas medicinais, cultivadas ali. Convida-nos para a 2ª Festa Italiana Revivendo Tradizioni, a ser realizada no bairro, no dia 26 de julho, em benefício da entidade. Dá água na boca ao ver o cartaz com a lista das comidinhas. O lugar é de paz e convidativo para interiorização. Não dá para sair dali sem fazer uma pequena vivência. Andar desçalça em silêncio sobre um pequeno jardim de pedras é se sentir inserida na proposta do Centro, ainda que rapidamente.
E lá vamos nós. De volta à estrada de terra em bom estado de conservação, seguimos adiante rumo à Cachoeira Machado I. Cabe aqui elogios ao Departamento de Turismo pela ótima sinalização dos atrativos turísticos do município.
Chegamos no Pedacim du céu: a Cachoeira Machado I. Quem nos recebe é dona Maria, dos Nogueiras, os proprietários do lugar. Sinceramente, não dá vontade de arredar os pés dali. A cachoeira está a poucas braças da casa dela e mais ao fundo um chalezinho, filho único ainda, para alugar. Isabel, a nora, conta que até o final do ano serão três chalés. Imagine! Dormir ouvindo o jorrar da água – em abundância ainda – não é uma doce cantiga de ninar? O passaporte para a cachoeira custa R$ 5, com direito ao uso de banheiros.
Conversa engrenada, dona Maria nos presenteia com fatias de queijos, feitos por ela. E traz suas invenções culinárias: uma variedade de geladinhos de frutas e um especial, de erva cidreira com limão. E a inventividade não se encerra aí: doces de leite no saquinho de geladinho, bolachinhas de nata, doce de abóbora no copinho…
Hora de retornar à cidade para almoçar. Optamos pelo Restaurante Villa Bueno, que funciona como self-service no almoço e pizzaria e a la carte à noite. Nos nomes dos pratos e nos tipos de pizza, homenagens às famílias do município: Dos Lodi, Dos Rossi, Dos Nunes…
Retornamos ao mesmo destino: sentido Socorro e a 3,5 km, a Encantos do Vale – Pousada e Spa Cultural, do Dan e da Mônica, um casal paulistano de origem e conectado com a evolução do planeta.
A bandeira da paz fixada na parede da sala do café da casa sede chama-nos atenção. Dan explica sua simbologia. E a conversa, com sincronicidade, se instala: estamos na mesma busca.
O espaço é um mimo. As construções agregam alguns conceitos da permacultura. Chalés e suítes amplos e confortáveis, lago, horta orgânica, uma pequeno templo – onde se comunga o sincretismo religioso – estão em harmonia com a natureza.
Vontade de ficar ali esticando a prosa tarde afora. Mas é hora de bater em retirada para cumprir mais um roteiro: a casa do lendário Zé Roberto, que no guia de turismo local está identificada como Chalés e Camping do Vinho, a 1km da cidade, sentido bairro Gabiroba.
Desta feita, Alessandra, a diretora de turismo, nos acompanha. Ela comenta sobre o evento que teve início ontem: o 1º Festival Cultural Inverno nas Montanhas, com extensa programação cultural e gastronômica, realizado aos finais de semana, encerrando-se em 9 de agosto, com a Festa de Bom Jesus, padroeiro do lugar. Este povo festeiro e acolhedor já esteve em festa na semana anterior com o evento 27º Arraiá do Zé Bagunça.
Encontramos Zé e sua esposa Laura em um trator na entrada da propriedade. A saudação é afetiva e calorosa. Aguardamo-los próximos à residência. Já de cara, ele pede minha ajuda para carregar um saco de milho verde, que segundo ele, era para fazer pamonha ainda naquela noite. Lá é assim: uma casa em constante movimento, causos, comilanças, tudo isto regado a vinho, produto da casa.
Realmente, Zé é uma lenda viva e olhe que ele só tem pouco mais de cinquenta anos, fiquei sabendo depois. E Laura, uma simpatia.
Vamos para o quintal. No fogão armado ali, um tacho enorme cozinhando chouriços. Enquanto coloca mais lenha no fogo, Zé vai narrando suas histórias engraçadas.
Sentamos-nos à mesa. Mais histórias. Laura traz dois pratos com chouriços e limão. Ele abre três garrafas de vinho de diferentes tipos. Experimento o seco. Mas ele faz graça e diz que tem uma safra especial que não foi engarrafada ainda e vai me oferecer um copo. Sai e volta com um caneco cheio. E brindamos à vida.
Quando pergunto sua idade, ele ri e diz: “37 anos”. E antes que eu revidasse, ele explica, com sua espiritualidade singular: “Isto mesmo. Só conto os dias úteis. Não conto os dias de chuva, de geada…”
Que deleite estes momentos! Não dá para esperar a pamonha. A noite já chegou e carecemos de ir. Saio de lá com uma garrafa do vinho especial, engarrafada na minha frente e uma certeza de que voltarei para aprofundar este convívio com uma família tão especial.
Até a volta Zé! Até a volta Bueno Brandão!
FESTIVAL INVERNO NAS MONTANHAS
Programação
Shows na Praça Virgílio de Melo Franco:
17 /07- às 21h: Gestos Sonoros
18/07 – às 21h: Xaxado Novo
19/07 – às 21h: Elder Costa
24/07- às 20h: Alma Cabocla
25/07 – às 21h: Bruno De La Rosa
26/07 – às 20h: Mayara e Maycon Braga
31/07 – às 20h: Juliano Giandoso
01/08 – às 20h: Roda de Choro
02/08 – às 21h: A trama
De 6 a 9 de agosto: Festa do Senhor Bom Jesus
Tour Gastronômico por dezesseis estabelecimentos entre pousadas, restaurantes e cafés durante os dias do evento.
ANOTE
(DDD 35)
Centro de Apoio ao Turista: 3463-2384
Chalés Bela Vista: 3463-1636
Pousada Encantos do Vale: 3463-1205
Camping do Vinho (Zé Roberto): 3463-1503
Centro de Terapia Complementar Irmã Elisa: 9966-5807
Chalé Pedacim du Céu: 9814-2221
Agradecimentos:
Alessandra Santos e Silva, Vera Dênis e Valdir e Maria Amélia, proprietários dos Chalés Bela Vista