Festa do Marmelo – por Ana Beraldo – 2016

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Delfim Moreira realiza segunda edição da Festa do Marmelo com festival gastronômico

Durante o evento, serão oferecidas a sopa de marmelo e a marmelada artesanal para degustação gratuita

No século passado quando os marmelais circundavam quase todo o território de Delfim Moreira, uma cidadezinha charmosa localizada nas encostas da Mantiqueira, a Sopa de Marmelo adentrava no ambiente doméstico e conquistava o paladar das famílias.  E neste universo, ela vem sendo repassada de geração a geração. Quente ou fria, com mais ou menos queijo, com farinha artesanal ou industrializada, a Sopa é hoje patrimônio cultural imaterial da cidade, com registro da receita no Livro de Saberes da Municipalidade e no IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais.

Com o objetivo de promover a salvaguarda desse precioso saber culinário, a Prefeitura de Delfim Moreira, por meio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura e do Departamento de Turismo, promove a  Festa do Marmelo – Festival Gastronômico, Cultura e Arte, que está em sua segunda edição. Este evento multicultural, que reúne gastronomia, música e os fazeres e saberes do município, será realizado de 21 a 24 de abril, a partir das 12h, no Parque de Exposição (antiga fábrica da Cica).

A ‘estrela’ da Festa é ela, a Sopa de Marmelo, elaborada ao vivo e distribuída gratuitamente durante os quatro dias do evento, assim como também a marmelada artesanal. “A Festa é uma das ações que fazemos para promover a salvaguarda da Sopa. E também proporciona o reencontro de delfinenses que moram aqui e fora e relembram da época da abundância da fruta, das fábricas, da sopa”, destaca o prefeito Fernando Coura, que também vivenciou este rico período, quando criança. “Meu avô era proprietário de marmelais no bairro São Bernardo e eu ajudava na colheita. Lembro, com emoção, da tropa de burros que ia buscar os marmelos e depois descia a serra rumo às fábricas aqui na cidade”, conta.

A Secretária Municipal de Educação e Cultura, Edméia Alkmin, uma das mentoras para a documentação do estudo da Sopa, enfatiza a importância deste bem imaterial: “A Sopa representa costumes e tradições experimentados entre diversos habitantes ao longo do tempo, apresentando-se como um significativo elo entre o presente e o passado da cidade e a Festa revitaliza a prática deste hábito alimentar que faz parte da história local e ajuda construir identidades individuais e coletivas”.

Outras atividades do evento

Outro atrativo do evento é o concurso gastronômico com pratos elaborados utilizando produtos locais (marmelo e outras frutas da região, pinhão, queijos e truta). Participam desta atividade proprietários de restaurantes, bares e similares com pratos salgados e donas de casa com sobremesas, doces e quitandas.

E para abrilhantar mais a parte gastronômica, duas participações especiais. A equipe do Senac Móvel irá ministrar oficinas com elaboração de pratos sugeridos pela organização durante os dias do evento (inscrições prévias).  Um grupo de professoras do recém-criado curso de Gastronomia da Univás, de Pouso Alegre, irá ministrar uma aula show com pratos elaborados à base de pinhão no dia 23 de abril, às 12h.

Na parte cultural, uma programação eclética: shows com bandas e artistas regionais todas as noites, apresentação dos talentos da cidade e de grupos da cultura popular no decorrer do evento.  Incrementam a programação as feiras de artesanato e de culinária artesanal com produtos da comunidade local.

 

O CULTIVO DO MARMELO EM DELFIM MOREIRA

Segundo estudos, o plantio da fruta nas redondezas é resultado do desenvolvimento do café no vale do Paraíba, cuja ocupação da área agrícola empurrou os marmelais em direção à Serra da Mantiqueira. Ali, o cultivo da fruta encontra condições favoráveis para seu desenvolvimento, ocupando parte do território já no século XIX. Nessa conjuntura ocorre a introdução do plantio de marmelo em Delfim Moreira, promovida pelo Barão de Bocaina ­- um grande fazendeiro que iniciou a cultura de frutas europeias na região da Mantiqueira.

A iniciativa do Barão logo é disseminada na região. No início do Século XX, pequenos produtores começam a cultivar seus marmelais.  A produção é intensificada com a instalação da primeira fábrica no município, a Colombo. Logo depois, são instaladas a Doces Mantiqueira, Fruticultores, Peixe, Frutiminas, Colombo, Cica, entre outras.

Na década de 1950, o marmelo corresponde a 51% do mercado delfinense. Em 1951, é realizada a primeira e única edição da Festa do Marmelo com oito dias de duração.

Na década seguinte, a comercialização atinge o auge. E Delfim Moreira torna-se referência na produção de marmelada.

Depois do apogeu, o declínio. Na década de 1970, com a crise econômica favorecendo a importação da fruta e os altos custos dos insumos, a produção cai. Na década de 1980, as fábricas fecham suas portas. Encerra-se um período rico na história de Delfim Moreira.

O que ficou deste tempo? Grande parte das construções que abrigavam as fábricas – algumas em estados precários – e doces lembranças naqueles que vivenciaram estes tempos movimentados e de fartura.

RECEITA DA SOPA (TEXTO ORIGINAL)

  • Ferve-se 01 a 03 litros de água com açúcar (03 colheres de sopa);
  • Lavam-se 6 a 7 marmelos maduros (até sair os pequenos pelos que cobrem sua superfície) para depois descascá-los;
  • As frutas devem ser cortadas ao meio para retirar a semente, em seguida devem ser picadas;
  • Enquanto todos os marmelos são repartidos, os pedaços precisam ser armazenados em uma bacia com água levemente salobra para que não fiquem escurecidos;
  • As frutas picadas devem ser novamente lavadas antes de serem jogadas ao tacho de água fervente;
  • Quando a água assumir a característica de um caldo (ralo), mistura-se a farinha de milho (a gosto) para se chegar à consistência de um mingau;
  • Acrescenta-se açúcar a gosto;
  • Ao atingir o ponto, desliga-se o fogo;
  • Pica-se uma porção de queijo curado (a gosto) para forrar o prato individual – o queijo também pode ser despejado na travessa, mas nesse caso deve-se tampá-la por alguns minutos;
  • Por fim, o quitute é servido com pitadas de canela ou cravo da índia.

Veja mais: https://www.facebook.com/Festa-do-Marmelo-1717025925208335/?fref=ts

Agende-se!

2ª Festa do Marmelo – Festival Gastronômico, Cultura e Arte, em Delfim Moreira
De 21 a 24 de abril, a partir das 12h
Parque de Exposição (antiga fábrica da Cica)
Entrada franca

* Fotos: Ana Beraldo

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